Na tarde da segunda-feira passada faleceu o nosso querido bispo Miguel. Hoje quero falar umas palavras a propósito dele, porque toda a diocese está a sofrer uma tristeza imensa: foi um bispo fora do comum.
O que diferenciava Bispo Miguel era o seu talento para ensinar. Conhecia a fundo a Bíblia e os mistérios da nossa fé. Nós achavamos às vezes que tinha nascido professor. Gostava de nada mais do que explicar o credo da Igreja Católica a grupos de fieis, seja adultos que crianças. Muitos bispos e padres quando falarem produzem um certo aborrecimento: ele nunca. Era um homem de baixa estatura, mas lembramos quanto os olhos brilhavam atrás dos seus óculos espessos, quanto facilmente sorria com entusiasmo para o seu tema. Ele, simplesmente, amava a fé católica, amava Jesus, e a sua sinceridade vinha à tona cada vez que abria a boca. Eis o homem.
Tinha uma simpatia imensa para a juventude. Gostava de viajar cada ano a Taizé em França com grupos de jovens, para experimentar com eles a alegria duma vida cristã vivida em comum. Pediu aos padres da diocese para escolherem os mais novos da paróquia para proclamar as leituras na missa, para ajudar como ministros da eucaristia. Cada ano passava um dia inteiro de catequese com os miudos da diocese, no campo duma escola segundaria, mas era uma catequese sem dôr e alegre, combinada com jogos e concursos.
Era um homem de energia inacreditável. Uma piada entre nós sacerdotes: se mandarmos uma mensagem por correio electrónico ao bispo, é muito provável recebermos a resposta dentro de cinco minutos. Se ele ficar em casa, podiamos quase apostar nisto. Conduzia o seu carro, carro humilde e velho, ele mesmo - até à última doença não tinha nunca chofer - atravessando esta vasta diocese a qualquer hora da noite ou do dia, para presenciar o sacramento do crisma, para presidir uma reunião. Era um homem de serviço e de regularidade, e esperava de nós, os seus padres, as mesma qualidades. Vivia uma vida muito simples, frequentemente fazia as compras ele mesmo e preparava a comer na sua casa. Não tinha nenhum traço do grande senhor.
Reinava em ele uma simpatia colossal pela Igreja Universal. Conhecia a fundo o estado dos cristãos, por exemplo, em Cambôdia, visitava cada ano, gemelou a nossa diocese com um grupo de paróquias muito pobres; graças a ele somos gemelados também com os católicos em Terra Santa, e apesar da falta de padres aqui, Bispo Miguel delegou um deles como, digamos, o seu embaixador ao bispo católico em Jerusalém ... sempre querendo ajudar, de qualquer maneira, os irmãos e irmãs menos privilegiados do mundo.
Acabamos de ler a descrição de Jesus enquanto ensinava. A multidão era tão grande que teve de subir para um barco e sentar-se, enquanto a multidão ficava na margem. Nesta ocasião Jesus ensinou a parábola do semeador. Bispo Miguel era un grande semeador da palavra. Nunca omitiu a possibilidade de partilhar com outros o seu conhecimento de Jesus e da sua doutrina. Jesus ensinava com parábolas, com exemplos simples, não usando termos complicados e difíceis: Bispo Miguel igualmente. Na parábola, o semeador não tinha sempre êxito: as vezes as sementes foram queimadas ou afogadas. Mas quando cairam em boa terra, deram fruto... cem por um, sessenta por um, trinta por um. A dedicação de Bispo Miguel era irresistível: era bom semeador da palavra, e rezamos hoje que os frutos do seu trabalho sejam verdadeiramente abundantes.
Assim como Jesus morreu e ressuscitou, também aos que morrem em Jesus, Deus os levará com Ele à sua glória. Se em Adão todos morreram, em Cristo todos voltarão à vida.
Pe. Tony Philpot
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